3 de junho de 2012

Eu cresci fazendo planos da minha vida profissional. Eu lembro de ver malhação e pensar que eu ia ser assim quando estivesse prestes a entrar na faculdade. Eu estudava pensando no quanto aquilo ia ser útil pra quando eu já estivesse na faculdade. Estudava tudo porque pensava que pessoas que queriam fazer nutrição eram boas em química  e biologia, e não em física como eu tinha que ser. Dizia pra todo mundo com 11 anos que eu ia fazer faculdade na UFRJ e passar em primeiro lugar. Não foi ninguém que colocou isso tudo na minha cabeça, eu mesma criei, porque sempre me imaginei desse jeito. Só que pra tudo isso acontecer eu tinha que sair de Nova Iguaçu. Precisava sair do interior, precisa ser vista, precisa ser reconhecida em um lugar de referencia. Lembro que fiz curso em um lugar maravilhoso, mas que no dia de uma prova ninguém conhecia o meu curso, mas todo mundo já tinha ouvido falar no curso Martins, tanto aqui quanto no Rio e decidi que eu ia fazer curso no Martins se eu não passasse pra Alimentos numa escola conhecida no país todo.
Ai eu consegui e sai de NI com 15 anos. Era parte dos meus planos ir morar com a minha tia com quem eu moro hoje, mas ela tinha acabado de se mudar pra Brasilia, mas no fim das contas não fazia diferença porque eu só vinha em casa pra dormir. Meus finais de semana eram no Rio e meus amigos de lá não fazem nem ideia de como faz pra chegar aqui, porque eu vivia lá. Eu até falava que as pessoas aqui eram limitadas e não pensavam em crescer na vida e sair desse lugar. Que gostavam de NI porque eram conhecidos aqui, mas nunca iam ser tão bons em outros lugares e ficava rindo de gente que falava: " Fulano tem dinheiro, mora lá no k-11".

Então outro dia eu estava andando na rua e uma senhora veio falar comigo, perguntando se eu era a vizinha da Rose, a que trabalhava no MP. E eu nunca tinha visto a mulher, mas ela me deu parabéns e disse que a minha vizinha falava muito bem de mim, e que todo mundo me adorava aqui na vila. Dai eu parei pra pensar e vi que esse monte de gente que eu não dei atenção por tanto tempo foi gente que me viu crescer e que torce por mim. Gente que tem foto minha em casa, que faz doce  traz aqui porque sabe que eu gosto e pede pra minha mãe guardar, que fala pra pessoas que eu não conheço que eu sou muito estudiosa e que vou ser doutora, que sabe que eu só como açaí com calda de leite condensado e que não contava pros meus pais quando eu trazia o meu  ex namorado aqui quando não tinha ninguém em casa. rs

E não que eu vá desistir de ser a nutricionista mais influente no mundo, mas hoje eu fui visitar uma senhora que mora aqui na rua que me levava na igreja quando eu era criança, tem 86 anos e quebrou uma perna. Na hora que eu fui embora ela me deu um abraço e disse: " Vai lá florzinha, eu amo muito você". 
Não que eu vá desistir, mas ser alguém pra todas essas pessoas aqui é algo tão bom que me faz ficar ansiosa de voltar pra casa. 

Um comentário: